Índios encenam sua história

escrito em quarta 17 outubro 2007 10:34


Programação inclui o ficina de pinturas e danças indígenas O povo indígena Umutina possui uma das mais tristes histórias de contato entre índios e brancos no Brasil, tendo sua população dizimada no início do século XVIII. Durante a Mostra Internacional de Teatro Infantil (MITI), em Cuiabá, jovens descendentes dos povos dizimados contarão aos brancos um pouco desta história, numa busca pela identidade e pelo respeito a uma cultura e uma tradição que pereceu graças à ação do homem branco. A peça teatral “Filhos de Haipuku”, que será encenada pelo grupo Nação Nativa,formado por 15 jovens entre 12 e 25 anos, remanescentes deste povo conhecido como “Índios Barbados”, que vivem integrados à sociedade numa aldeia a 8 km de Barra dos Bugres. A apresentação acontece às 9 horas da próxima sexta-feira (19), na Casa Barão de Melgaço, no bairro do Porto, em Cuiabá. Antes da apresentação, o grupo realizará também uma oficina de Pintura e Dança indígena, onde irá repassar um pouco do conhecimento adquirido ao longo dos anos sobre a cultura do povo Umutina, realizando pintura corporal nos participantes e ensinando a dança do “Yuri-Cerimônia dos espíritos dos pássaros sagrados”, que é realizada com a participação de homens e mulheres. A oficina será realizada na Academia Mato-grossense de letras. Os Umutina – A triste história do encontro entre os Umutina e o homem branco começa no século XVIII, época da exploração da poaia na região. O contato com o SPI - Serviço de Proteção ao Índio deu-se por volta do ano de 1911. Existiam muitos índios antes do contato, segundo contam os mais velhos. Com a chegada do SPI, também vieram as epidemias e as doenças como: tuberculose, sarampo e coqueluche, que quase dizimou a população indígena. Em 1913, os índios foram pacificados pelo Marechal Cândido Rondon. Nos anos 30, o SPI foi buscar povos como os Paresi e os Nambikwara para residirem no mesmo local que os Umutina. “O choque entre as diferentes culturas foi extremamente prejudicial aos Umutina. Muitos desses índios fugiram para dentro das matas”, comenta a professora e diretora teatral Naine Terena, responsável pelo projeto. Em 1945 Schutz encontrou 23 índios escondidos. Esses Umutinas ficaram conhecidos como os “23 independentes” - Índios que não queriam levar uma vida de branco, nem misturar seus costumes, queriam ser verdadeiros Umutina. A última Umutina independente morreu na década de 90 e levou com ela a maior parte do patrimônio imaterial de seu povo, hoje mestiço. Seus remanescentes vivem hoje numa aldeia a 8 km de Barra dos Bugres (MT) entre os rios Paraguai e Bugre, numa reserva demarcada em 1989. Falam mais o português que a língua materna e sua economia está baseada no plantio de roça, na pesca e na pecuária. Constantemente os Umutina são foco de polêmicas por causa da pesca e comercialização ilegal de peixes durante a piracema. Os jovens da comunidade procuram formas de resguardar a memória de seus antepassados. “Hoje na aldeia, poucos idosos mantém algumas informações necessárias aos jovens, porém, não é o suficiente para que esses possam conhecer o passado de seus bisavós”, comenta Naine. Vivendo entre a cultura branca e a cultura de outros povos indígenas residentes na aldeia, esse grupo de jovens foi a diferentes capitais do país em busca de textos, livros, fotos e pessoas que tiveram contato com os últimos Umutina. Diante da incansável busca, conseguiram retomar parte das vestimentas, adornos e pinturas apenas observando fotos e descrições em livros escrito por pesquisadores e pessoas que viveram com os seus antepassados. Conseguiram também recompor cantos e danças sagradas. Parte destas danças restauradas eram executadas em rituais fúnebres. Hoje, esses jovens realizam essas danças em homenagem aos “parentes” que morrem na aldeia. Também utilizam as danças como suporte para a educação formal e informal da comunidade. Participam de eventos, mostram tudo o que conseguiram recuperar ao longo de dez sofridos anos em busca de uma identidade. “Não se contentando com o que conseguiram recuperar, agora querem contar a história do seu povo e a experiência da reconstrução para outros povos”, diz ela.Naine Terena conta que se surpreendeu com a vontade e a dedicação dos jovens indígenas. “Para esses jovens, o mais importante é promover a reflexão sobre a realidade e vivência dos povos indígenas de Mato Grosso. A montagem narra a história do povo Umutina, como o Mito criador, mitos que narram os fenômenos da natureza, danças e um pouco da história do contato com os não-indígenas. Através da montagem os jovens irão estudar e conhecer mais sobre os seus antepassados, tendo dessa forma a oportunidade de vivenciar a memória dos mais velhos e propagá-las.”